quinta-feira, 5 de junho de 2014

Acidez do Dia: Da glória ao ocaso em uma cabeçada!

Estava assistindo, agora há pouco, ao filme oficial da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. E resolvi postar aqui um texto que escrevi minutos após àquela final, entre Itália e França, em 7 de julho de 2006.
Assistir à França e, principalmente, ao Zidane jogar me dá uma azia gigantesca. 
Haja antiácido, viu? 

Eis o texto!


Disse o poeta Fernando Pessoa:

“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”

Autopsicografia, ou a primeira estrofe desse belo poema, serve como pano de fundo para o que aconteceu no Estádio Olímpico de Berlim. Mas o que Fernando Pessoa tem a ver com futebol? A princípio, nada. Fernando morreu muito tempo antes do jogo de hoje, e escreveu esse poema tendo tudo em mente, menos o futebol. Hoje, porém, o poema serve para descrever um time e um jogador, quais sejam: França e Zinedine Zidane. Além disso, o título deste texto é dedicado a ambos!

Aquele ar "blasé" de quem já tinha visto a enganação francesa! Aff!

Vamos ao mais fácil: a seleção francesa. Há exatos 22 anos, desde a Eurocopa de 84, a seleção francesa vem enganando o mundo, que acredita cegamente no futebol que eles apresentaram por mais de duas décadas. No entanto, a França finge que joga futebol, e finge tão completamente que acredita que é futebol o que deveras joga. E o que é pior: uma outra seleção acredita mais do que a própria França – o Brasil, vítima em três oportunidades desse embuste coletivo. Em 86, perdemos nos pênaltis; em 98, perdemos em campo; em 2006, bem... deixa pra lá, não é, Roberto Carlos? Em 22 anos, pode-se contar nos dedos de uma mão os jogos em que a França realmente não “fingiu” e jogou um bom futebol! O jogo de hoje não foi e certamente não será lembrado como um desses! E por quê?

Porque Zinedine Zidane estava em campo. Se a França é o poema, Zidane é seu autor. Eleito três vezes o melhor jogador do mundo, campeão com a França em 98, Zizou foi da glória ao ocaso em uma cabeçada! Caminhava para ser eleito o melhor jogador da Copa 2006. E, por conta de uma cabeçada, caminhou envergonhado para o vestiário.

Um momento verdadeiro de um pseudo-craque!

Não é a primeira vez que isso acontece. Zidane é temperamental tanto quanto é bom jogador. Eu disse apenas bom. O craque decide o jogo, aparece nos momentos fundamentais de uma partida. Essencialmente, em sua carreira, dois foram os jogos em que Zidane se mostrou decisivo: contra o Brasil em 98 e, vejam vocês, novamente contra o Brasil em 2006. Vou ser um pouco mais condescendente e abrir uma exceção: no jogo de hoje, ele também foi decisivo. Converteu o pênalti para a França e agiu como um touro indomável em direção ao toureiro! Muitos outros atletas sofreram com a destemperança de Zidane em vários momentos. Ele é o jogador francês com mais expulsões em Copa – com a de hoje, duas! Em três copas disputadas, foram seis cartões amarelos e dois vermelhos. E cinco gols. Ou seja: Zidane fez muito mais faltas violentas do que gols em Copas. E hoje, em plena final de Copa do Mundo, desceu envergonhado a escadaria, junto com sua obra enganadora, ou melhor, sua seleção.

Isso é o que valem Zidane e a França!

Para o bem do futebol que não “finge”, Zidane deixa as quatro linhas. Para o bem do futebol mundial, a França não foi campeã. A seleção francesa sempre pertenceu ao segundo escalão do futebol mundial, e é para lá que ela vai retornar a partir de amanhã, de onde nunca deveria ter saído. Mas alguém esqueceu de avisá-los em 84, e eles acreditaram que era futebol o que eles deveras jogavam. E, cá entre nós: fingiram muito bem, porque fundamentalmente nós, brasileiros, acreditamos e muito! Au revoir, Zidane! Au revoir, Les Bleus!